quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vox nihili


Uma opinião de verdade necessariamente envolve fundamento. Dizer somente "é bom" ou "é ruim" nada mais é que uma casca vazia, uma estrutura frágil como uma bolha, um fiapo de ideia que a qualquer momento pode esvanecer com um mero sopro contrário. É vox nihili, é voz do nada.

Opiniões vox nihili são facilmente reconhecíveis, simplesmente porque não têm fundamentos que obedeçam à um raciocínio lógico, e quando os têm, são vagos, extremamente subjetivos e pouco concretos. Nascem, tipicamente, do pouco pensamento, ou em pior hipótese, da escassa construção do pensamento. Não há suficiente material racional pra construí-lo.

Essas pestes se escondem atrás da aparente fortaleza da subjetividade para bloquear qualquer tentativa de se racionalizar a questão. Apenas porque é uma questão de gosto não significa que não existam razões/causas para isso. Certamente, se essas razões/causas são corrompidas, ou falsas, ou ilusórias, bem, aí já é outra história.

O fato é que uma opinião real constitui em si um fundamento racional. Em outras palavras: sem fundamento dessa natureza, essa opinião se transforma em nada, e, particularmente, entra por um ouvido, sai pelo outro. É vox nihili.

Fuja das expressões vazias e sem sentido, das opiniões vagas e frágeis. Quem mais sai perdendo é você que opina, porque além de economizar pensamento valioso na hora de se expressar, ainda gasta o tempo daquele que está te ouvindo/lendo, o que é realmente lamentável, não acha? Por isso, da próxima vez que não ter gostado de "Aventuras de Zuzubalândia", ao invés de falar "uma porcaria, não tem enredo, os personagens são totalmente apáticos", comente algumas razões minimamente lógicas que o levaram a chegar a essa conclusão. Sem isso, sua opinião correrá o sério risco de cair no vazio.

Obviamente, existem exceções que pertencem, essas sim, a algumas áreas pouco afeitas à racionalização, como aquelas que regem o amor profundo e a felicidade plena: nesses, a lógica simplesmente deixa de funcionar.

2 comentários:

Clara Cortêz disse...

Qualquer opinião é subjetiva, tenha um fundamento denso ou não. E ainda que bem fundamentada não há nada que garanta persuasão ou que simplesmente deixe de entrar por um ouvido e sair pelo outro. O vazio não depende de quem fala, mas de quem escuta.

H. disse...

É bem verdade que opiniões podem ter um fundo de subjetividade. Veja bem: podem. Não são sempre subjetivas. Opiniões podem ser completamente objetivas, como, por exemplo, a opinião um técnico da NASA em relação a algum fenômeno astronômico: é 100% objetivo porque não deixa margem pra qualquer subjetivismo do técnico, e porque se baseia em fundamentos lógicos razoáveis para sustentá-la. E ainda assim, não deixa de ser opinião, que, por definição, é o que temos a dizer sobre alguma coisa.

A questão principal não é se a opinião é subjetiva ou objetiva, não é isso. A questão real é se os fundamentos dessa opinião são lógicos e racionais, ou, em outras palavras, se eles fazem um sentido, se são um fundamento sólido pra aguentar o peso dessa opinião. E pra ser assim, não é preciso ser muito denso...

Além disso, a persuasão já diz respeito a outra àrea, que é a da argumentação, sobre a qual não foi feita qualquer menção no texto.

Por fim, bem, o vazio depende sim de quem fala, pela seguinte razão: se o motivo pelo qual locutor e interlocutor interagem entre si é a troca de informações, se a mensagem do locutor for vazia, que troca existirá? Nenhuma. Sendo assim, podemos dizer que o vazio da mensagem é culpa de quem recebe? Certamente que não. Então, reiterando, o vazio depende, sim, de quem fala, e não de quem escuta.

Mas, claro, cabe a quem escuta: se vai cair no vazio de quem fala e se perder por lá, ou se vai deixar passar, como se nunca tivesse ouvido.