sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Stage Unlocked


A partir de hoje estarei relatando neste blog passagens de minha rotina aqui em Kobe, Japão, como bolsista do MEXT. Como prometido, frequentemente e a muitos, e depois de muito reclamar de gente que viajava e não cuidava dos blogs que faziam, usarei este meu antigo blog para servir de canal para mostrar o que estou fazendo aqui e expressar minhas impressões. Tentarei ao máximo dispor de detalhes, fotos e vídeos daquilo que achar interessante e digno de ser publicado.

Mas antes, permitam-me uma breve digressão.

Desde muito tempo tive interesse em fazer intercâmbio. Conhecer outros países, outras pessoas, viver como elas viviam, ver como elas viam, e toda a poesia da coisa. Nunca tive um lugar específico em mente, mas iria aonde surgisse oportunidade, e, principalmente, se houvesse uma bolsa de estudos na jogada. Acontece que em meados de 2006 descobri no curso de japonês que havia uma bolsa de estudos oferecida pelo Ministério da Educação do governo do Japão (MEXT) disponível para aqueles que pretendessem completar seus estudos de graduação, pós-graduação, técnico e etc. em terras nipônicas. Interessado, investiguei mais a fundo e decidi: era essa que eu ia tentar. Daí então fui traçando um plano específico para ter sucesso no processo seletivo desta bolsa.

Acontece que nesse plano eu não poderia abrir mão do curso de japonês. Era meu diferencial, minha porta de entrada, meu trunfo para poder ter sucesso nessa empreitada. Como consequência, e por razões de conflito de horário, fora dos estudos não pude me dedicar a trabalhos remunerados, como os muitos estágios oferecidos aos estudantes do curso de Direito. Portanto abri mão de um maior conforto financeiro pessoal e experiência profissional para me dedicar exclusivamente a essa possibilidade. Considerei que, uma vez conseguisse alcançar esse objetivo, tudo o que viesse depois compensaria os sacrifícios que havia decidido fazer.

Porém, não era apenas isso. Desde o início meu foco era na carreira diplomática, e, apesar de ter aprendido a gostar muito de Direito, procurei manter esse foco até o final. Tanto que me dei liberdade para carregar comigo essas duas opções: tentar a pós-graduação na minha área em país estrangeiro ou estudo para o concurso de admissão do Instituto Rio Branco. Contudo, e dentro do contexto universitário de que fui parte, isso sempre foi considerado exótico, bizarro até. Muitos davam a entender que eu estava fazendo isso por um luxo pessoal, e não uma necessidade. Mas ainda que me tivessem como insensato ou apenas iludido, havia decidido desde o princípio de que era isso o que eu queria, numa vontade que beirava a obstinação. Até mesmo quando vez ou outra debati minhas escolhas com amigos, algumas vezes me apontavam que minha lógica não era assim tão infalível como eu julgava. Foram momentos importantes para que eu pudesse sempre estar pondo em perspectiva esse planejamento tão rígido.

O porquê de eu ter decidido por essas duas opções não irei explicar aqui. Acredito que merece um post próprio, talvez em um futuro próximo.

Por ter pretendido desde o início da faculdade por estes caminhos pouco convencionais e com poucos precedentes, especialmente em Natal, significava que eu teria de correr atrás e buscar a experiência de outros que conseguiram, e partindo disso inovar dentro de minhas próprias possibilidades. Então foi o que tentei fazer.

Agora, depois de anos, todo aquele planejamento que tracei do zero, construindo, derrubando, apagando, retomando, aperfeiçoando e avançando, finalmente deu o grande resultado esperado, embora que por vias inesperadas. Sempre procurei deixar espaço para o caos naquilo que planejava, e no final das contas, foi pelo caos que consegui concretizar meu objetivo. Essa história contarei no próximo post.

Contudo, preciso deixar claro aqui, e muito claro: não cheguei aqui sozinho.

Se estou aqui, para cada passo lá estava alguém ao meu lado, muitos e muitos alguéns que me ajudaram a por tijolo por tijolo dessa empreitada. Se procurei fazer a minha parte em todo esse plano foi porque alguém me apoiava e me dava estabilidade para prosseguir, sempre.

Eu obviamente não teria conseguido o que queria sem o apoio incondicional de minha família e de meus amigos. Devo tanto e por tantas coisas a eles que simplesmente não tenho como pagar senão com minha gratidão e apoio também incondicionais. E meus pais, em especial, que procuraram compreender desde o princípio minhas razões e decisões, e me ajudaram com tanta força que parecia que a escolha também tinha sido deles; que me proporcionaram tudo o que foi possível para que eu tivesse em mãos meios para fazer acontecer meus objetivos, que aguentaram minhas idiossincrasias e personalidade difícil e que sempre, sempre estiveram comigo. Muito obrigado a todos.

E a seguir, no próximo post: Uma Saga Chamada Monbusho.

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